Inaugurada há mais de 12 anos para funcionar com uma unidade de segurança máxima, a penitenciária Dr. Francisco Nogueira Fernandes, conhecida como presídio de Alcaçuz, está longe de prestar o serviço para o qual foi construída. É de lá que partem boa parte das ordens do tráfico de drogas na Grande Natal, bem como para as explosões de caixas eletrônicos que têm aterrorizado o Rio Grande do Norte. E a voz de comando é dada pela célula da facção criminosa paulista Primeiro Comando da Capital (PCC), que possui cerca de 80 membros espalhados por presídios potiguares. É o que revela o coordenador da administração penitenciária do Estado, José Olímpio. Segundo ele, 80% do narcotráfico da região metropolitana da capital é coordenado pela facção.
Foto:Eduardo Maia/DN/D.A Press |
"Infelizmente, o registro de corrupção entre os que deveriam tomar conta do presídio é muito grande", lamenta o coordenador da administração penitenciária, José Olímpio da Silva. Já o atual diretor da prisão de Alcaçuz, há pouco mais de uma semana no cargo, major PM Marcos Lisboa é mais contundente. "Eu conheço o sistema por dentro e também sei que não tem como uma arma entrar flutuando no presídio. Entra porqueum mau colega que compõe o sistema prisional se corrompe, é claro", aponta o major que há mais de oito anos serve em administrações de presídios do RN, já tendo sido vice-diretor de Alcaçuz, diretor do complexo penal João Chaves e do presídio de Parnamirim.
PCC no RN
Com experiência no núcleo de inteligência penitenciária do estado, José Olímpio da Silva assumiu este ano a coordenação do sistema prisional potiguar. Segundo ele, foi no final do ano passado que se reuniu a maior parte das informações que se tem sobre a presença do PCC, devido a descoberta de um plano de rebelião simultânea coordenado pela facção, que estouraria em Alcaçuz, na Penitenciária Estadual de Parnamirim (PEP) e no Presídio Provisório Raimundo Nonato.
O coordenador revela que foram encontrados vários cadernos contendo o "estatuto" da facção anotado à mão em diversas revistas feitas dentro do presídio de Alcaçuz durante o ano de 2010. Descobriu-se ainda que 80 detentos eram membros do PCC, selecionados a partir do perigo que representamà sociedade. "Para entrar na célula da organização, o apenado tinha de ter cometido algum crime barra pesada fora cadeia e também não poderia ser um viciado em drogas". Os envolvidos com a organização criminosa são identificados por tatuagens com desenhos de uma carpa ou do símbolo oriental yin yang.
Segundo o coordenador, o objetivo da célula da organização em Alcaçuz é coordenar ações criminosas no estado, sobretudo em relação ao tráfico de drogas e roubo de bancos. Vários números de telefones de diversos estados do país foram encontrados em celulares apreendidos nas celas. Tais números eram usados para negociar os pedidos de envio de entorpecentes, bem como o de ordenar outros tipos de crime. Olímpio revela ainda que pelo menos 17 homens que estão foragidos da polícia têm participação nos roubos à caixas eletrônicos com uso de dinamite.
José Olímpio conta que a criação da célula do PCC em Alcaçuz foi feita por dois criminosos: Alexandre Tiago da Costa, o "Xandinho", e Jackson Jussier Rocha Rodrigues (mortoem confronto com a polícia no dia 5 deste mês). Ambos foram transferidos para o Presídio Federal de Catanduvas (PR) em 2007, onde passaram um ano. Ao retornarem, trouxeram a "doutrina" da facção paulista para dentro do sistema prisional potiguar.
O coordenador diz que após a descoberta da presença do PCC em Alcaçuz, vários detentos envolvidos foram transferidos para diferentes unidades prisionais do estado, com o objetivo de desmantelar sua organização. "Desde então, não temos mais informações de tanta movimentação deles". Contundo, José Olímpio acredita que o grupo permanece coordenando ações criminosas.
José Olímpio acredita também que o "Xandinho" tenha assumido a liderança do PCC potiguar depois da morte de Jackson Jussier, que era o chamado "01". O coordenador ressalta ainda que todas essas informações foram repassadas para a Divisão Especializada de Investigação e Combate ao Crime Organizado (Deicor) quando essa era coordenada pelo delegado Ronaldo Gomes. "Porém não recebemos qualquer resposta, o que éuma pena. A polícia não pode somente prender e jogar a pessoa no sistema prisional. É preciso fazer um acompanhamento desses presos, saber quem são e o que eles continuam fazendo".
fonte: diario de natal
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