ASN/RNA atividade têxtil é a base da economia de Jardim de Piranhas. Com a crise, cerca de 80 tecelagens fecharam e houve demissões
O município, segundo Joilson, não foi capaz de absorver os funcionários demitidos, que estão ociosos, aguardando a reabertura das fábricas. “A cidade gira em torno da tecelagem. Não conheço nenhuma atividade que possa se igualar em números de empregos gerados”, afirma. O presidente da Associação espera que algumas fábricas reabram e voltem a readmitir já no segundo semestre com a provável queda nos preços, em decorrência da nova safra. “A alta do algodão desencadeou uma série de problemas em Jardim de Piranhas. A indústria perdeu seu poder aquisitivo, se descapitalizou e demitiu vários funcionários”, resume.De acordo com José Rangel de Araújo, gestor do Arranjo Produtivo Local da Tecelagem do Seridó e consultor do Sebrae/RN, está faltando algodão no mercado mundial, o que elevou os preços e culminou com o fechamento de fábricas e a redução de postos de trabalho. “O fio, que antes custava R$4,30, agora está custando, em média, R$8,50 - quase o dobro. Este aumento não pôde ser repassado para o consumidor final. O preço do fio dobrou, mas o preço do pano de prato, por exemplo, não pôde subir nem 30%”, exemplifica. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a alta dos preços foi provocada pela forte redução dos estoques mundiais. O problema é nacional e afeta principalmente fábricas de baixo capital e pouca capacidade de investimento.
Embora afete a indústria têxtil como um todo, a alta atinge em cheio as pequenas tecelagens. “Como o preço não pode ser repassado para o consumidor final, criou-se uma ciranda. A maior parte das fábricas ou estão produzindo menos ou fecharam as portas, porque não estavam ganhando dinheiro. As grandes fábricas ainda conseguem importar. As pequenas não”, afirma.
Segundo Rangel, o problema não se restringe ao Rio Grande do Norte. Em todo o mundo, falta algodão. “E se os governos não tomarem uma medida mais energética vai continuar faltando”. Na avaliação dele, aumentar a área plantada, como os dados divulgados pela Conab vem apontando, não basta. “O governo deve segurar este commodity (o algodão é um commodity negociada em bolsas de mercadorias do mundo, como a soja, por exemplo) para evitar que outros comprem nossa pluma e a gente fique sem”. Mesmo que o governo federal, que tem o poder de tirar ou incluir commodities na bolsa de mercadorias, reverta o quadro nos próximos meses, o setor levaria um tempo para reaquecer, admite Rangel.
Quem trabalha na indústria têxtil e tem como matéria-prima o tecido e não o fio também sentiu os efeitos da alta do algodão. O tecido já chega 30% mais caro nas indústrias, segundo José Rangel. “Quem trabalha com fio sentiu maior impacto do que quem trabalha com o tecido. No entanto, o preço do fio acabou repercutindo na cadeia como um todo”, afirma.
Estado importa grande parte da matéria-prima
A indústria têxtil potiguar consome cerca de 70 mil toneladas de pluma por ano. Boa parte do produto vem da Bahia e da região Centro-Sul do país. A produção potiguar, que deverá chegar a 900 toneladas nesta safra, é insuficiente para atender a demanda.
Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a área plantada com algodão no Rio Grande do Norte deve subir 30% na safra 2010/2011, o que ainda é considerado pouco pelo Sindicato das Indústrias de Fiação e Tecelagem do Rio Grande do Norte. A média é a segunda mais baixa do Nordeste. O RN ganha apenas do Ceará, onde a área deve crescer 14,8% este ano. Na Paraíba, por exemplo, estado que registra maior alta, a área plantada deve subir 580%, em relação a 2009/2010. No Brasil, a área plantada na safra 2010/2011 deve subir 65,9%, em relação à última safra, segundo a Conab.
Enquanto isso, no RN, a produtividade (calculada em quilo por hectare) deve subir 33,1% - terceiro melhor resultado da Região – e a produção (calculada em mil toneladas) deve crescer 80%, em relação à safra passada. É o terceiro melhor resultado do Nordeste. O RN fica atrás apenas do Piauí e do Ceará.
“O preço do algodão está agora em fase descendente, mas não sabemos ainda em que velocidade vai cair nem até onde a queda vai chegar. Não tenho dúvidas de que a situação vai se normalizar. Quando aumenta muito o preço, aumenta a quantidade de pessoas plantando. E como esse aumento que teve agora foi um aumento violento, então a área plantada de algodão no mundo vai crescer muito. No Brasil, as estatísticas apontam que a próxima safra tem uma área plantada cerca de 30% maior que a anterior. Isso representa mais oferta de algodão”, esclareceu João Lima, presidente do Sindicato das Indústrias de Fiação e Tecelagem do Rio Grande do Norte, em entrevista à Tribuna do Norte.
Embora a perspectiva seja de crescimento na área plantada, produção e produtividade no RN e queda de preços, o cenário deve mudar apenas no próximo ano, segundo José Rangel
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